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Neste Inverno de 2007, têm sido frequentes as notícias, ocupando grande parte dos serviços informativos dos meios de comunicação social, sobre o avanço do mar e a consequente destruição de troços da costa. É evidente que ninguém pode ficar indiferente a algumas situações de pessoas, sobretudo de pescadores, que vêm as suas casas em risco de serem destruídas pelo mar.
As reacções que se podem observar variam muito: da parte de alguns pescadores, a compreensão de um fenómeno natural, resumido numa expressão – “o mar deu, o mar tira”. Noutros casos, o que se vê é uma indignação contra “o governo que não faz nada”, como se qualquer governo pudesse agir para contrariar as formidáveis forças da natureza. Para muitas pessoas ainda existe a crença de que o homem tem um poder ilimitado sobre a natureza, que pode dominá-la de acordo com os seus interesses. Assiste-se assim ao pavoroso trabalho de acumular pedras e areias na linha de costa, as quais, ou são logo sugadas pelo mar ou passam a fazer parte de uma paisagem que nada tem de belo.
O que se estranha é que ninguém responsável venha esclarecer que este fenómeno de destruição da costa é imparável. Apenas ouvi, na Antena 1 uma professora da Universidade de Aveiro dizer que, no caso de Esmoriz, não há outra solução que não seja deslocar as pessoas que vivem junto da costa. Entretanto, alguns engenheiros do ambiente (?) propõem soluções de engenharia pesada. Será a construção de muros de betão, como já está acontecer no Algarve, para evitar a derrocada das arribas, ou a acumulação de entulhos?
Mas o facto que devia ser amplamente esclarecido é que a linha de costa nem sempre foi como a conhecemos hoje. Oscilou com os períodos glaciários e interglaciários, que influenciaram directamente o nível do mar. Na Costa da Caparica, a arriba fóssil corresponderá a um período de subida do nível do mar, seguindo-se um período de recuo e de acumulação que originou a vasta planície que se estende até à praia. Agora, com a tendência para a subida do nível do mar, é natural que ele comece novamente a invadir a terra.
Mas tudo isto que está a acontecer mostra a falta de ordenamento do território. Durante décadas admitiu-se, com autorização ou não, a construção em áreas de risco, como: leitos de cheia; vertentes instáveis, com possibilidade de deslizamentos e/ou de fenómenos sísmicos; dunas e arribas. A ausência de uma fiscalização preventiva e a permissividade de alguns responsáveis pelo licenciamento, levou muita gente a construir onde não devia, ou por ignorância ou porque achavam que, embora fosse um risco, “talvez não acontecesse nada”. Em muitos casos, a ocupação destas áreas contribuiu para acelerar o processo de degradação.
É nestes momentos que se lamenta a falta de cultural ambiental de que padece o nosso país. E a escola tem grandes responsabilidades. Porque o discurso das pessoas que são ouvidas na comunicação social demonstra sobretudo uma grande ignorância sobre estes assuntos. Seria suposto, dado o nível de escolaridade que, apesar de tudo, uma boa parte possui (9º ano de escolaridade), terem uma compreensão dos fenómenos geográficos aqui abordados. Mas, infelizmente, tal não acontece.
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