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Erosão do litoral

por Júlia, em 23.02.07

 

Neste Inverno de 2007, têm sido frequentes as notícias, ocupando grande parte dos serviços informativos dos meios de comunicação social, sobre o avanço do mar e a consequente destruição de troços da costa. É evidente que ninguém pode ficar indiferente a algumas situações de pessoas, sobretudo de pescadores, que vêm as suas casas em risco de serem destruídas pelo mar.

As reacções que se podem observar variam muito: da parte de alguns pescadores, a compreensão de um fenómeno natural, resumido numa expressão – “o mar deu, o mar tira”. Noutros casos, o que se vê é uma indignação contra “o governo que não faz nada”, como se qualquer governo pudesse agir para contrariar as formidáveis forças da natureza. Para muitas pessoas ainda existe a crença de que o homem tem um poder ilimitado sobre a natureza, que pode dominá-la de acordo com os seus interesses. Assiste-se assim ao pavoroso trabalho de acumular pedras e areias na linha de costa, as quais, ou são logo sugadas pelo mar ou passam a fazer parte de uma paisagem que nada tem de belo.

O que se estranha é que ninguém responsável venha esclarecer que este fenómeno de destruição da costa é imparável. Apenas ouvi, na Antena 1 uma professora da Universidade de Aveiro dizer que, no caso de Esmoriz, não há outra solução que não seja deslocar as pessoas que vivem junto da costa. Entretanto, alguns engenheiros do ambiente (?) propõem soluções de engenharia pesada. Será a construção de muros de betão, como já está acontecer no Algarve, para evitar a derrocada das arribas, ou a acumulação de entulhos?

Mas o facto que devia ser amplamente esclarecido é que a linha de costa nem sempre foi como a conhecemos hoje. Oscilou com os períodos glaciários e interglaciários, que influenciaram directamente o nível do mar. Na Costa da Caparica, a arriba fóssil corresponderá a um período de subida do nível do mar, seguindo-se um período de recuo e de acumulação que originou a vasta planície que se estende até à praia. Agora, com a tendência para a subida do nível do mar, é natural que ele comece novamente a invadir a terra.

Mas tudo isto que está a acontecer mostra a falta de ordenamento do território. Durante décadas admitiu-se, com autorização ou não, a construção em áreas de risco, como: leitos de cheia; vertentes instáveis, com possibilidade de deslizamentos e/ou de fenómenos sísmicos; dunas e arribas. A ausência de uma fiscalização preventiva e a permissividade de alguns responsáveis pelo licenciamento, levou muita gente a construir onde não devia, ou por ignorância ou porque achavam que, embora fosse um risco, “talvez não acontecesse nada”. Em muitos casos, a ocupação destas áreas contribuiu para acelerar o processo de degradação.

É nestes momentos que se lamenta a falta de cultural ambiental de que padece o nosso país. E a escola tem grandes responsabilidades. Porque o discurso das pessoas que são ouvidas na comunicação social demonstra sobretudo uma grande ignorância sobre estes assuntos. Seria suposto, dado o nível de escolaridade que, apesar de tudo, uma boa parte possui (9º ano de escolaridade), terem uma compreensão dos fenómenos geográficos aqui abordados. Mas, infelizmente, tal não acontece.

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publicado às 17:41


2 comentários

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De Anónimo a 24.02.2007 às 22:17

Cara Entretejodiana ou Ensinasola :),

Um bom exemplo para solucionar os problemas que a costa portuguesa atravessa é a Holanda... que, na prática, está em circunstâncias piores, mas que consegue, pelo menos, atrasar o avanço da água...

Vi outro dia um documentário, em que se explicava que era impossível, para este país, continuar a suster a água por engenharias, por mais avançadas e resistentes que sejam... parece que a única solução é aproveitar os próprios rios, sacrificando-se, no entanto, várias populações do país...

Por mais longe que esteja este dia para nós (se calhar não tão distante como se pensa), haverá uma altura em que vamos ter de nos preocupar com a mudança da natureza... será que os portugueses estão preparados?

Cmpts e boa noite, opinante (espero que ainda se lembre de mim)
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De Júlia a 25.02.2007 às 16:13

Caro opinante

Claro que me lembro de si. Fico contente pela visita.
Quanto ao exemplo da Holanda, não me parece que possa ser aplicável dadas as características diferentes da plataforma continental, muito estreita no litoral português e muito vasta no Mar do Norte. Os holandeses tinham condições naturais para realizarem aquela formidável obra. No nosso caso, tanto para a destruição dos troços baixos da costa, quer para o recuo das arribas, a solução parece-me ser a de respeitar as forças da natureza e libertar essas áreas mais sensíveis da pressão humana.
Já não sei qual vai ser a solução, no caso de subida do nível do mar, para as cidades como Lisboa.
Há uns tempos foi publicada na Visão uma antevisão do que aconteceria se o nível do mar subisse uns tantos metros. Bom, em situação extrema, uma boa parte de Portugual iria desaparecer.
Quanto à preparação dos portugueses, parece-me que seria uma boa altura para a começar a fazer. Desde logo, fazer com que diminuam as emissões de gases de estufa.
Cá por mim, faço o que posso. Desde que me mudei para a província, o automóvel só serve para andar de vez em quando.
Apesar de ter deixado o SOL, continuo a visitar o seu blogue e outros.

Os meus cumprimentos

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