Estava um dia cheio de sol e com uma temperatura agradável, apesar de estarmos no Inverno. Como o tempo convidava a sair, decidimos fazer uma pequena viagem e revisitar terras que já não víamos há algum tempo.
Apesar do passeio ter sido um pouco mais longo, resolvi concentrar-me na paisagem que se pode observar da estrada que liga Arronches ao Crato.
As formas de relevo antes e depois de se atravessar a ponte sobre a Ribeira de Arronches, em Arronches, não muito são diferentes. Predomina uma superfície aplanada, com algumas ondulações, que faz parte da peneplanície alentejana. A cobertura vegetal varia pouco. Nesta altura do ano, os terrenos estão cobertos de ervas, aqui e ali intercalados por manchas brancas dos malmequeres em flor. Este fundo verde vivo contrasta com o verde cinza das azinheiras que pontuam mais ou menos densamente estas terras. Com a aproximação a Portalegre, começam a aparecer os sobreiros, árvore mais exigente em água do que a azinheira.
Passamos por S. Tiago. Há uns anos tinha apenas algumas casas, poucas e modestas, junto à estrada e não constava na toponímia. Agora é um aglomerado de vivendas modernas. O facto de estar relativamente perto de Portalegre (mais ou menos 5 km) poderá explicar o seu crescimento.
A seguir a S. Tiago o relevo começa a mudar. Acima da superfície mais ou menos plana, erguem-se algumas elevações que anunciam a proximidade da Serra de S. Mamede. Em Portalegre, a Penha destaca-se pela sua imponência. Aqui podemos ver o resultado de formidáveis movimentos tectónicos que, fracturando grandes massas rochosas, as deslocaram verticalmente, dando origem um relevo escarpado e muito desnivelado. Na estrada que vai para Castelo Branco, pode observar-se, na base, rochas xistentas, a partir das quais se ergue a grande massa granítica da Penha.
Portalegre é uma cidade que está a ter uma grande expansão. Deixou a vertente da montanha para se espraiar na planície. Novas urbanizações, de alguma dimensão, estão a ser construídas perto do IP2 e do campo da feira.
Seguindo já a estrada que vai para o Crato, a paisagem modifica-se novamente. Predominam as terras mais ou menos planas, mas com afloramentos visíveis de granito, ora lisos, ora em blocos.

Montado de sobro
A cobertura vegetal também é diferente. Evidenciam-se os vinhedos da Tapada do Chaves, ainda em expansão. Os montados aparecem mais compactos, ora de azinheiras, ora de sobreiros. Nas estevas começam a aparecer algumas das suas lindíssimas flores. Aparecem também algumas terras desarborizadas que já foram searas.
Chegamos ao Crato. É uma vila, sede de concelho, com cerca de 2000 habitantes. Tem uma história muito antiga e foi sede da Ordem de Malta em Portugal. Apesar das destruições de que foi alvo, ainda há alguns vestígios de interesse. A igreja com cantarias de granito, painéis de azulejos do século XVIII e talha dourada, casas que evidenciam a sua origem nobre e portas ogivais em casas bem mais modestas. No ponto mais alto da colina onde se situa, localizava-se o castelo que foi seriamente danificado quando da invasão pelo exército de D. João de Áustria, na guerra da Restauração. Há uns anos o castelo exibia orgulhosamente as suas ruínas. Depois, as muralhas foram rebocadas e caiadas de branco. No interior, não sei o que fizeram. Agora, o panorama é ainda mais tenebroso: o que se vê é a construção não sei de quê, vislumbrando-se as armações de ferro do que serão as vigas de betão. Não me apeteceu perguntar nada sobre o que se estava a fazer ali. Apenas me invadiu uma tremenda indignação pela falta de respeito para com o património que é de todos nós.

O "castelo" do Crato