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Três apontamentos de uma viagem no Parque Natural da Serra de S. Mamede, a partir de Mosteiros e passando por Besteiros, Soverete, Rabaça, S. Julião e Porto da Espada.
O último dia de Primavera amanheceu enevoado. Com a aproximação à Serra de S. Mamede, o que tinha começado como uma névoa, foi-se transformando num nevoeiro que se adensou com a altitude. A paisagem escondeu-se para apenas se revelar quando o Sol dissipou o nevoeiro, nas imediações de Rabaça. Então surgiu o relevo vigoroso da parte mais oriental da serra, com as encostas cobertas sobretudo de vegetação arbustiva, com especial destaque para as estevas. No ar havia um perfume indescritível. Uma mistura de cheiros a esteva, alguns pinheiros e eucaliptos e, provavelmente, outras plantas não identificadas. Nos cortes da estrada via-se a rocha dominante nesta parte da serra, o xisto, com as suas finas camadas brilhantes e sedosas ao tacto. Por vezes, no cimo das elevações, as cristas de quartzito rompiam vigorosamente em alinhamentos estreitos e de contornos irregulares.
As estradas são estreitas e sinuosas, chegando mesmo a não caber mais do que um automóvel. A raia está, por vezes, bem perto. Num ponto do percurso, uma estrada estreita subitamente alargou e o que era território de Rabaça, passou a ser de Rabaza, sem que qualquer placa nos indicasse que aquele território já era Espanha. Invertendo o sentido da marcha, lá estava, afinal, a placa que indicava o começo de Portugal.
A estrada que liga Rabaça a S. Julião percorre uma encosta virada a Oeste, sombranceira a um amplo vale cultivado e com um povoamento disperso. As localidades são pequenas e desempenham a função de centros de uma actividade agrícola que beneficia de condições naturais favoráveis. Com a aproximação a Porto da Espada, surgem os castanheiros, cobertos de flor nesta época do ano. Esta povoação é a maior e mais interessante neste percurso.
Este espectáculo não deixa de me encantar, por mais vezes que o observe: a roupa é lavada e posta a secar na rua.
É sinal de que as casas não têm espaços abertos, os quintais, para armar estendais destinados a secar a roupa. Também é um indício de que as relações de vizinhança são boas. Por estas ruas íngremes de uma aldeia quase despovoada, o movimento só pode ser muito reduzido.
É preciso descer a íngreme encosta para se chegar à Fonte Santa ou de Nossa Senhora da Graça, padroeira de Ouguela. Podemos imaginar como seria penoso carregar os cântaros cheios encosta acima, antes de haver a rede de distribuição de água ao domicílio. Agora, a água da fonte, como está indicado num aviso no seu interior, é imprópria para consumo. O painel de azulejos que decorava a parte central do frontão, está completamente destruído. Do lado direito e um pouco abaixo na encosta, está o tanque para os animais beberem.
O bebedouro dos animais e uma nesga da magnífica paisagem que daqui se avista.
Cortina de choupos que separa a parte ajardinada, dos pavilhões da zona industrial. Estão condenados a ser abatidos porque deitam "algodão", porque sujam, porque..., porque..., porque sim.
A este propósito, não pude deixar de anotar o que foi escrito aqui sobre a "remodelação" do Jardim do Princípe Real, em Lisboa:
"O que existe no seu lugar é uma área devastada por uma febre de destruição (um arboricídio), por uma sanha de ódio às árvores em geral, por uma pressa em facturar exemplares novos (sublinhado meu) a todo o custo mesmo contra o parecer da Autoridade Nacional de Florestas."
Dá para pensar e associar, não é verdade?
O telhado de duas águas é o que mais frequentemente se observa nas casas tradicionais alentejanas. No entanto, de vez em quando, surge-nos uma ou outra casa com telhado de uma só água. É o caso desta casa com visíveis sinais de abandono, em Vale do Peso.
A estação de Vale do Peso, como uma grande parte das estações da CP, tem nas paredes exteriores alguns painéis de azulejos. O edifício da estação não é muito grande mas é muito interessante (pode ver-se numa foto no site da freguesia)
Curiosamente, sendo painéis figurativos, não apresentam nada referido à povoação a que está associada, mas a outras povoações próximas. Não se reproduz aqui a totalidade dos painéis, mas apenas alguns.
Este celebra a olaria de Nisa, ilustrando a fase de colocar no barro ainda mole os pequenos pedaços de quartzo que compõem os desenhos das bilhas. Note-se que este trabalho é atribuído às mulheres.
Aqui, um dos monumentos de Nisa, a Igreja do Calvário.
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