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Ouguela

por Júlia, em 27.02.07
Ouguela é uma das antigas vilas medievais que se erguem alcandoradas no cimo dos montes, junto à fronteira. A sua função defensiva era muito importante numa época de grande instabilidade e de luta pelo território entre Portugal e Castela.
Foi concelho até ao século XIX. Em 1527 tinha 163 moradores (mais de 500 habitantes) e estava integrado na grande unidade que era a comarca de Entre Tejo e Odiana. Esta comarca era limitada a norte pelo Rio Tejo, a oeste pelo Oceano Atlântico, a Sul pelo Algarve e a leste pelo Rio Guadiana (Odiana), contando ainda os termos dos concelhos da Margem Esquerda – Mourão, Moura, Serpa e parte de Mértola - e ainda o termo de Olivença, mais a norte.
A importância que teve em tempos já muito recuados é visível nas muralhas, ainda bem conservadas que protegiam o núcleo habitado.

Ouguela. Torre e muralhas

 

 

 

Ouguela. Porta na Muralha
Ouguela. Porta do castelo
Com o tempo, a função defensiva perdeu importância e a população foi progressivamente diminuindo. Tem actualmente apenas 80 habitantes, e é uma aldeia do concelho de Campo Maior. A escola fechou por falta de crianças. Os últimos professores que passaram por Ouguela fizeram um trabalho meritório no sentido de despertar nas crianças sentimentos de pertença e de apreço a esta comunidade, bem como divulgar junto de outras comunidades a realidade da vida na aldeia. A utilização da Internet e a construção de um site, permitiu-lhes ultrapassar fronteiras e comunicar com escolas de vários países.
Sinal dos tempos e do envelhecimento da população, a antiga escola é agora o Centro Comunitário, onde se reúnem as pessoas mais idosas.

Ouguela. Igreja.

 

Chegando a Ouguela, o que impressiona é o silêncio, entrecortado pelo canto das aves e, regularmente, pelo som que vem da igreja, onde o cântico “Avé, Avé Maria” marca as horas. À volta do monte estendem-se os campos a perder de vista, mostrando claramente que a fronteira entre Portugal e Espanha é uma linha absolutamente convencional. Nada há que demarque o limite da raia. Para norte, avista-se Alburquerque, terra espanhola com um castelo imponente alcandorado numa escarpa.

Ouguela. Vista de sul para norte.

A mancha de eucaliptos acompanha a Ribeira de Abrilongo

 

Existem ainda casas habitadas no interior da fortaleza. Algumas modestas mas cuidadas. A casa do governador está em ruínas, tendo havido já alguns projectos sempre adiados para a recuperar.

Ouguela. Ruínas da casa do governador

 

Para Norte, algumas ruas cresceram para fora das muralhas e estende-se pela íngreme encosta. As casas são baixas, modestas, umas bem cuidadas, outras com ar de abandono.
Os poucos moradores que ainda resistem, temem a morte da aldeia.
É triste o destino de lugares como este, tão belos e cheios de memórias, mas votados ao abandono.
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publicado às 15:21

Primaveras

por Júlia, em 25.02.07

Tenho esta plantinha desde o ano passado. No verão pareceu-me que não ia resistiria às altas temperaturas que se registaram no Alentejo. Mudei-a para um vaso um pouco maior e procurei resguardá-la o melhor que pude, mas sem grandes expectativas, até porque o inverno também teve dias bastante frios.Mas esta Primula lá conseguiu resistir e brindar-nos com estas magníficas flores.

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publicado às 16:17

Erosão do litoral

por Júlia, em 23.02.07

 

Neste Inverno de 2007, têm sido frequentes as notícias, ocupando grande parte dos serviços informativos dos meios de comunicação social, sobre o avanço do mar e a consequente destruição de troços da costa. É evidente que ninguém pode ficar indiferente a algumas situações de pessoas, sobretudo de pescadores, que vêm as suas casas em risco de serem destruídas pelo mar.

As reacções que se podem observar variam muito: da parte de alguns pescadores, a compreensão de um fenómeno natural, resumido numa expressão – “o mar deu, o mar tira”. Noutros casos, o que se vê é uma indignação contra “o governo que não faz nada”, como se qualquer governo pudesse agir para contrariar as formidáveis forças da natureza. Para muitas pessoas ainda existe a crença de que o homem tem um poder ilimitado sobre a natureza, que pode dominá-la de acordo com os seus interesses. Assiste-se assim ao pavoroso trabalho de acumular pedras e areias na linha de costa, as quais, ou são logo sugadas pelo mar ou passam a fazer parte de uma paisagem que nada tem de belo.

O que se estranha é que ninguém responsável venha esclarecer que este fenómeno de destruição da costa é imparável. Apenas ouvi, na Antena 1 uma professora da Universidade de Aveiro dizer que, no caso de Esmoriz, não há outra solução que não seja deslocar as pessoas que vivem junto da costa. Entretanto, alguns engenheiros do ambiente (?) propõem soluções de engenharia pesada. Será a construção de muros de betão, como já está acontecer no Algarve, para evitar a derrocada das arribas, ou a acumulação de entulhos?

Mas o facto que devia ser amplamente esclarecido é que a linha de costa nem sempre foi como a conhecemos hoje. Oscilou com os períodos glaciários e interglaciários, que influenciaram directamente o nível do mar. Na Costa da Caparica, a arriba fóssil corresponderá a um período de subida do nível do mar, seguindo-se um período de recuo e de acumulação que originou a vasta planície que se estende até à praia. Agora, com a tendência para a subida do nível do mar, é natural que ele comece novamente a invadir a terra.

Mas tudo isto que está a acontecer mostra a falta de ordenamento do território. Durante décadas admitiu-se, com autorização ou não, a construção em áreas de risco, como: leitos de cheia; vertentes instáveis, com possibilidade de deslizamentos e/ou de fenómenos sísmicos; dunas e arribas. A ausência de uma fiscalização preventiva e a permissividade de alguns responsáveis pelo licenciamento, levou muita gente a construir onde não devia, ou por ignorância ou porque achavam que, embora fosse um risco, “talvez não acontecesse nada”. Em muitos casos, a ocupação destas áreas contribuiu para acelerar o processo de degradação.

É nestes momentos que se lamenta a falta de cultural ambiental de que padece o nosso país. E a escola tem grandes responsabilidades. Porque o discurso das pessoas que são ouvidas na comunicação social demonstra sobretudo uma grande ignorância sobre estes assuntos. Seria suposto, dado o nível de escolaridade que, apesar de tudo, uma boa parte possui (9º ano de escolaridade), terem uma compreensão dos fenómenos geográficos aqui abordados. Mas, infelizmente, tal não acontece.

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publicado às 17:41

Passeio numa tarde de Inverno

por Júlia, em 22.02.07
Estava um dia cheio de sol e com uma temperatura agradável, apesar de estarmos no Inverno. Como o tempo convidava a sair, decidimos fazer uma pequena viagem e revisitar terras que já não víamos há algum tempo.
Apesar do passeio ter sido um pouco mais longo, resolvi concentrar-me na paisagem que se pode observar da estrada que liga Arronches ao Crato.
 
As formas de relevo antes e depois de se atravessar a ponte sobre a Ribeira de Arronches, em Arronches, não muito são diferentes. Predomina uma superfície aplanada, com algumas ondulações, que faz parte da peneplanície alentejana. A cobertura vegetal varia pouco. Nesta altura do ano, os terrenos estão cobertos de ervas, aqui e ali intercalados por manchas brancas dos malmequeres em flor. Este fundo verde vivo contrasta com o verde cinza das azinheiras que pontuam mais ou menos densamente estas terras. Com a aproximação a Portalegre, começam a aparecer os sobreiros, árvore mais exigente em água do que a azinheira.
Passamos por S. Tiago. Há uns anos tinha apenas algumas casas, poucas e modestas, junto à estrada e não constava na toponímia. Agora é um aglomerado de vivendas modernas. O facto de estar relativamente perto de Portalegre (mais ou menos 5 km) poderá explicar o seu crescimento.
A seguir a S. Tiago o relevo começa a mudar. Acima da superfície mais ou menos plana, erguem-se algumas elevações que anunciam a proximidade da Serra de S. Mamede. Em Portalegre, a Penha destaca-se pela sua imponência. Aqui podemos ver o resultado de formidáveis movimentos tectónicos que, fracturando grandes massas rochosas, as deslocaram verticalmente, dando origem um relevo escarpado e muito desnivelado. Na estrada que vai para Castelo Branco, pode observar-se, na base, rochas xistentas, a partir das quais se ergue a grande massa granítica da Penha.
Portalegre é uma cidade que está a ter uma grande expansão. Deixou a vertente da montanha para se espraiar na planície. Novas urbanizações, de alguma dimensão, estão a ser construídas perto do IP2 e do campo da feira.
Seguindo já a estrada que vai para o Crato, a paisagem modifica-se novamente. Predominam as terras mais ou menos planas, mas com afloramentos visíveis de granito, ora lisos, ora em blocos.

Montado de sobro
A cobertura vegetal também é diferente. Evidenciam-se os vinhedos da Tapada do Chaves, ainda em expansão. Os montados aparecem mais compactos, ora de azinheiras, ora de sobreiros. Nas estevas começam a aparecer algumas das suas lindíssimas flores. Aparecem também algumas terras desarborizadas que já foram searas.
Chegamos ao Crato. É uma vila, sede de concelho, com cerca de 2000 habitantes. Tem uma história muito antiga e foi sede da Ordem de Malta em Portugal. Apesar das destruições de que foi alvo, ainda há alguns vestígios de interesse. A igreja com cantarias de granito, painéis de azulejos do século XVIII e talha dourada, casas que evidenciam a sua origem nobre e portas ogivais em casas bem mais modestas. No ponto mais alto da colina onde se situa, localizava-se o castelo que foi seriamente danificado quando da invasão pelo exército de D. João de Áustria, na guerra da Restauração. Há uns anos o castelo exibia orgulhosamente as suas ruínas. Depois, as muralhas foram rebocadas e caiadas de branco. No interior, não sei o que fizeram. Agora, o panorama é ainda mais tenebroso: o que se vê é a construção não sei de quê, vislumbrando-se as armações de ferro do que serão as vigas de betão. Não me apeteceu perguntar nada sobre o que se estava a fazer ali. Apenas me invadiu uma tremenda indignação pela falta de respeito para com o património que é de todos nós.

O "castelo" do Crato

 
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publicado às 15:55

Céu, terra e água

por Júlia, em 18.02.07

Um braço da albufeira da Barragem do Caia em contraluz. Fevereiro de 2007.

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publicado às 18:32

Anémona

por Júlia, em 16.02.07

A primeira anémona que desabrochou este ano no meu jardim. Fevereiro de 2007

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publicado às 16:50

Provas globais

por Júlia, em 16.02.07

Foi anunciado pelo Ministério da Educação que vão deixar de se fazer as provas globais a que tinham de se sujeitar os alunos do 9º ano. Logo vieram alguns protestar contra a sua extinção, porque assim se estava a fomentar o facilitismo, porque haveria menos rigor na avaliação dos alunos nas disciplinas não sujeitas a exame.

Para que serviam as provas globais? A intenção seria verificar se os alunos tinham adquiridos as competências básicas previstas nos programas, uma vez que as avaliações parciais incidem, normalmente, sobre temas ou parte da matéria das disciplinas. É evidente que a bondade das provas era muito discutível porque dependia do modo como eram elaboradas. No entanto, o seu peso em termos de classificação final era reduzido, não alterando significativamente o seu resultado.

Desde que foram introduzidas, verificou-se que tinham aspectos negativos. Retiravam um período de tempo significativo às actividades lectivas e, mesmo que as aulas continuassem após a sua realização, os alunos não estavam psicologicamente disponíveis para continuar o processo de aprendizagem, tornando-se para os professores difícil gerir esta situação. Além disso, como sempre foram conotadas com os exames, durante o período em que eram realizadas, os alunos só se preocupavam em estudar para aquela que iria ser realizada a seguir e que incluía todos os conteúdos da disciplina (embora na prova só estivessem presentes alguns). Como não havia interrupção das actividades, os alunos tinham de frequentar todas as aulas, com os professores a tentarem ensinar novas matérias. Era um período muito pouco produtivo e que implicava um processo burocrático bastante pesado.

Curiosamente, quando foram decretadas, houve muitas vozes a protestar contra as provas globais. Agora que foram abolidas também há protestos.

Começa a ser cansativo o que se passa na educação porque muitos dos que protestam quando as "inovações" são adoptadas, também protestam em sentido contrário quando elas são retiradas.

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publicado às 16:10

frutos

por Júlia, em 04.02.07

Os castanhos e verdes da natureza sob a forma de frutos de uma palmeira.

 

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publicado às 11:40

eduquês

por Júlia, em 03.02.07

Tornou-se moda criticar a escola e os resultados dos alunos atribuindo os maus resultados à influência do "eduquês". E o que será esta coisa? Nada mais do que a nefasta influência das Ciências da Educação e, sobretudo, das concepções construtivistas da aprendizagem. Nuno Crato chega mesmo a atribuir ao construtivismo a responsabilidade pela catastrófica situação da educação em Portugal.

Mas em que se baseiam estas pessoas bem pensantes para fazer esta crítica? Embora não o digam explicitamente, parece que chegam a estas brilhantes conclusões através dos discursos que se foram produzindo desde há alguns anos pelo Ministério da Educação, principalmente desde que foi Secretária de Estado a Prof. Ana Benavente.

O que eles não sabem é que nem sempre há coincidência entre os discursos oficiais e a prática nas escolas.

Será que foram investigar a relação entre os maus resultados e as práticas dos professores?

Será que os professores que procuram adequar as suas práticas aos princípios da concepção construtivista da aprendizagem são os que têm piores resultados?

Desconhecem que muitos professores continuam a ensinar segundo o método tradicional, o tal que lhes permitiu serem "senhores doutores", em que o professor transmite o seu saber e supõe-se que os alunos aprendem quando conseguem reproduzir o mais fielmente possível esse discurso?

 Se estes senhores se informassem melhor, talvez evitassem transmitir para a opinião pública ideias erradas sobre os problemas de que enferma a educação, cuja situação é muito complexa.

Um dos exercícios que poderiam fazer era comparar os programas que eles próprios tiveram enquanto alunos e os programas actuais. Talvez tivessem uma surpresa. E os programas, embora nas intenções pareçam orientar-se pelo construtivismo, os conteúdos desmentem essas intenções. Reflectem mais as modas e paradigmas das disciplinas, transferindo do ensino superior conteúdos por vezes pouco adequados ao ensino básico e secundário.

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publicado às 18:30

xisto e lata

por Júlia, em 02.02.07

O desrespeito pelo ambiente é visível para onde quer que se vá. Nas ruas das povoações e no campo. Aqui, sobre um afloramento de xisto, repousa enferrujada uma lata de conserva.

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publicado às 19:00


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