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Ouguela. Torre e muralhas
Ouguela. Igreja.
Ouguela. Vista de sul para norte.
A mancha de eucaliptos acompanha a Ribeira de Abrilongo
Ouguela. Ruínas da casa do governador
Tenho esta plantinha desde o ano passado. No verão pareceu-me que não ia resistiria às altas temperaturas que se registaram no Alentejo. Mudei-a para um vaso um pouco maior e procurei resguardá-la o melhor que pude, mas sem grandes expectativas, até porque o inverno também teve dias bastante frios.Mas esta Primula lá conseguiu resistir e brindar-nos com estas magníficas flores.
Neste Inverno de 2007, têm sido frequentes as notícias, ocupando grande parte dos serviços informativos dos meios de comunicação social, sobre o avanço do mar e a consequente destruição de troços da costa. É evidente que ninguém pode ficar indiferente a algumas situações de pessoas, sobretudo de pescadores, que vêm as suas casas em risco de serem destruídas pelo mar.
As reacções que se podem observar variam muito: da parte de alguns pescadores, a compreensão de um fenómeno natural, resumido numa expressão – “o mar deu, o mar tira”. Noutros casos, o que se vê é uma indignação contra “o governo que não faz nada”, como se qualquer governo pudesse agir para contrariar as formidáveis forças da natureza. Para muitas pessoas ainda existe a crença de que o homem tem um poder ilimitado sobre a natureza, que pode dominá-la de acordo com os seus interesses. Assiste-se assim ao pavoroso trabalho de acumular pedras e areias na linha de costa, as quais, ou são logo sugadas pelo mar ou passam a fazer parte de uma paisagem que nada tem de belo.
O que se estranha é que ninguém responsável venha esclarecer que este fenómeno de destruição da costa é imparável. Apenas ouvi, na Antena 1 uma professora da Universidade de Aveiro dizer que, no caso de Esmoriz, não há outra solução que não seja deslocar as pessoas que vivem junto da costa. Entretanto, alguns engenheiros do ambiente (?) propõem soluções de engenharia pesada. Será a construção de muros de betão, como já está acontecer no Algarve, para evitar a derrocada das arribas, ou a acumulação de entulhos?
Mas o facto que devia ser amplamente esclarecido é que a linha de costa nem sempre foi como a conhecemos hoje. Oscilou com os períodos glaciários e interglaciários, que influenciaram directamente o nível do mar. Na Costa da Caparica, a arriba fóssil corresponderá a um período de subida do nível do mar, seguindo-se um período de recuo e de acumulação que originou a vasta planície que se estende até à praia. Agora, com a tendência para a subida do nível do mar, é natural que ele comece novamente a invadir a terra.
Mas tudo isto que está a acontecer mostra a falta de ordenamento do território. Durante décadas admitiu-se, com autorização ou não, a construção em áreas de risco, como: leitos de cheia; vertentes instáveis, com possibilidade de deslizamentos e/ou de fenómenos sísmicos; dunas e arribas. A ausência de uma fiscalização preventiva e a permissividade de alguns responsáveis pelo licenciamento, levou muita gente a construir onde não devia, ou por ignorância ou porque achavam que, embora fosse um risco, “talvez não acontecesse nada”. Em muitos casos, a ocupação destas áreas contribuiu para acelerar o processo de degradação.
É nestes momentos que se lamenta a falta de cultural ambiental de que padece o nosso país. E a escola tem grandes responsabilidades. Porque o discurso das pessoas que são ouvidas na comunicação social demonstra sobretudo uma grande ignorância sobre estes assuntos. Seria suposto, dado o nível de escolaridade que, apesar de tudo, uma boa parte possui (9º ano de escolaridade), terem uma compreensão dos fenómenos geográficos aqui abordados. Mas, infelizmente, tal não acontece.
O "castelo" do Crato
Foi anunciado pelo Ministério da Educação que vão deixar de se fazer as provas globais a que tinham de se sujeitar os alunos do 9º ano. Logo vieram alguns protestar contra a sua extinção, porque assim se estava a fomentar o facilitismo, porque haveria menos rigor na avaliação dos alunos nas disciplinas não sujeitas a exame.
Para que serviam as provas globais? A intenção seria verificar se os alunos tinham adquiridos as competências básicas previstas nos programas, uma vez que as avaliações parciais incidem, normalmente, sobre temas ou parte da matéria das disciplinas. É evidente que a bondade das provas era muito discutível porque dependia do modo como eram elaboradas. No entanto, o seu peso em termos de classificação final era reduzido, não alterando significativamente o seu resultado.
Desde que foram introduzidas, verificou-se que tinham aspectos negativos. Retiravam um período de tempo significativo às actividades lectivas e, mesmo que as aulas continuassem após a sua realização, os alunos não estavam psicologicamente disponíveis para continuar o processo de aprendizagem, tornando-se para os professores difícil gerir esta situação. Além disso, como sempre foram conotadas com os exames, durante o período em que eram realizadas, os alunos só se preocupavam em estudar para aquela que iria ser realizada a seguir e que incluía todos os conteúdos da disciplina (embora na prova só estivessem presentes alguns). Como não havia interrupção das actividades, os alunos tinham de frequentar todas as aulas, com os professores a tentarem ensinar novas matérias. Era um período muito pouco produtivo e que implicava um processo burocrático bastante pesado.
Curiosamente, quando foram decretadas, houve muitas vozes a protestar contra as provas globais. Agora que foram abolidas também há protestos.
Começa a ser cansativo o que se passa na educação porque muitos dos que protestam quando as "inovações" são adoptadas, também protestam em sentido contrário quando elas são retiradas.
Tornou-se moda criticar a escola e os resultados dos alunos atribuindo os maus resultados à influência do "eduquês". E o que será esta coisa? Nada mais do que a nefasta influência das Ciências da Educação e, sobretudo, das concepções construtivistas da aprendizagem. Nuno Crato chega mesmo a atribuir ao construtivismo a responsabilidade pela catastrófica situação da educação em Portugal.
Mas em que se baseiam estas pessoas bem pensantes para fazer esta crítica? Embora não o digam explicitamente, parece que chegam a estas brilhantes conclusões através dos discursos que se foram produzindo desde há alguns anos pelo Ministério da Educação, principalmente desde que foi Secretária de Estado a Prof. Ana Benavente.
O que eles não sabem é que nem sempre há coincidência entre os discursos oficiais e a prática nas escolas.
Será que foram investigar a relação entre os maus resultados e as práticas dos professores?
Será que os professores que procuram adequar as suas práticas aos princípios da concepção construtivista da aprendizagem são os que têm piores resultados?
Desconhecem que muitos professores continuam a ensinar segundo o método tradicional, o tal que lhes permitiu serem "senhores doutores", em que o professor transmite o seu saber e supõe-se que os alunos aprendem quando conseguem reproduzir o mais fielmente possível esse discurso?
Se estes senhores se informassem melhor, talvez evitassem transmitir para a opinião pública ideias erradas sobre os problemas de que enferma a educação, cuja situação é muito complexa.
Um dos exercícios que poderiam fazer era comparar os programas que eles próprios tiveram enquanto alunos e os programas actuais. Talvez tivessem uma surpresa. E os programas, embora nas intenções pareçam orientar-se pelo construtivismo, os conteúdos desmentem essas intenções. Reflectem mais as modas e paradigmas das disciplinas, transferindo do ensino superior conteúdos por vezes pouco adequados ao ensino básico e secundário.
O desrespeito pelo ambiente é visível para onde quer que se vá. Nas ruas das povoações e no campo. Aqui, sobre um afloramento de xisto, repousa enferrujada uma lata de conserva.
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