Ouguela é daquelas terras onde não se passa, vai-se. Localiza-se a Nordeste da sede do concelho, Campo Maior, muito próxima da fronteira com Espanha.

Ouguela vista de Sudeste, pela estrada que lhe dá acesso
Ao aproximarmo-nos da que já foi vila sede de concelho, a primeira visão que temos é de uma elevação coroada por muralhas de um castelo medieval. Subindo a encosta, em breve se vêem as casas do arrabalde, organizadas em três ruas íngremes com vista para a planura que se estende no sopé do monte, fruto do trabalho de deposição dos dois cursos de água que aqui confluem: a Ribeira de Abrilongo e o Rio Xévora.
Uma das ruas do arrabalde, vendo-se ao fundo, a planície aluvial do Abrilongo-Xévora e elevações já em território espanhol.
Estranha-se quando se entra na povoação: o silêncio é apenas cortado pelo canto das aves que se abrigam nas árvores. Dos cerca de 60 moradores, são raros os que se assomam às portas ou janelas, curiosos para ver os visitantes que se aventuram por estas paragens.
Ouguela vista da parte Norte. A muralha é interrompida pela brancura da igreja. Na encosta, à direita, o arrabalde e um pequeno bairro de casas relativamente novas. Também se vê a antiga escola, actualmente desactivada e convertida em centro de dia.
A igreja resplandece de brancura, pintada recentemente por voluntários devotos de Nossa Senhora da Enxara.
Restam ainda muralhas bem conservadas da antiga fortaleza, defesa de uma fronteira que entretanto perdeu importância estratégica.
Subindo às muralhas e percorrendo o caminho da ronda, desfruta-se de uma paisagem impressionante. Para Sul, uma superfície ondulada ocupada com campos de cultura, dos quais se destaca a geometria dos olivais. Para Norte, as planuras com mosaicos de culturas arvenses e de montado só interrompidas pelas elevações em território espanhol. Na encosta íngreme de uma destas elevações, vigiava a fronteira e Ouguela, qual sentinela, a antiga praça forte de Alburquerque.
No interior, a vila velha, com casas modestas muito ao estilo popular alentejano, mas também algumas que sugerem a condição mais abastada dos seus proprietários.
Um recanto da vila velha
Ocupando um espaço importante, a seguir à porta gótica da fortaleza, as ruínas de uma casa a que chamam do governador, com janelas onde ainda resiste alguma decoração em relevo. No vasto recinto, as aberturas da cisterna e o forno comunitário. O forno ainda é utilizado na Páscoa para os tradicionais assados de borrego.
O forno comunitário
Não posso dizer que é a aldeia da minha vida. É uma aldeia que gosto de visitar mas que está a ser progressivamente abandonada por vontade dos homens. Se nada for feito para contrariar o seu destino, com o passar do tempo será um aglomerado de ruínas que irá caindo no esquecimento e nem mesmo as histórias das vidas de quem lá viveu e das peripécias e dramas dos tempos do contrabando, permanecerão na memória das gentes. Porque há quem não aprecie a preservação das marcas e das histórias do passado, como legado fundamental da identidade cultural de uma comunidade.
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Este texto foi preparado como contributo para o blogue "Aldeia da Minha Vida".
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